Governo de SP ataca orçamento das universidades e da Fapesp para 2025

Publicado em 10 de Maio de 2024 às 12h11.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) enviou à Assembleia Legislativa (Alesp) uma mensagem modificativa em relação ao artigo 5º do projeto de lei (PL) 302/2024, que estabelece a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025. O texto do PL, publicado no Diário Oficial da Alesp em 2 de maio, inseria uma “novidade” no artigo 5º: no percentual destinado à Unicamp, à USP e à Unesp (9,57% do ICMS - Quota-parte do Estado), foram inseridas a Faculdade de Medicina de Marília (Famema), a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Isso significaria uma expressiva redução nos recursos para as estaduais paulistas em 2025.

Equipe técnica do Fórum das Seis após reunião com equipe do Conselho de Reitores (Cruesp). Foto: Fórum das Seis

Frente à reação das entidades representativas, de reitores e de vários setores da sociedade, Tarcísio anunciou o recuo ainda no dia 3 de maio e enviou à Alesp uma mensagem modificativa, publicada no dia último dia 6.

Autonomia em risco
A mensagem não suspende o alerta. O fato deixou clara a intenção do atual governo de confiscar recursos da educação superior pública paulista e atacar a autonomia das universidades, previstas no Decreto nº 29.598, de fevereiro/1989. De acordo com o decreto Unesp, Unicamp e USP passaram a contar com dotação orçamentária própria, inicialmente de 8,4% da quota-parte do estado da arrecadação do ICMS, percentual que foi ampliado nos anos seguintes, em meio às lutas da comunidade acadêmica, chegando aos 9,57% vigentes até hoje.

“O desejo de acabar com a autonomia e confiscar recursos das universidades não é de hoje, mas ganha tons mais ameaçadores no governo atual. Nada impede que a “base bolsonarista” do governador na Alesp leve adiante a tentativa de alterar o art. 5º, uma vez que o texto original do PL 302/2024 pode ser resgatado. Além disso, mais uma vez, a proposta de LDO chega à Alesp sem a expressão “no mínimo” antes dos 9,57% do ICMS/QPE, o que precisa ser alterado”, alerta texto divulgado pelo Fórum das Seis - que reúne representação sindical de docentes, técnicos e técnicas e entidades estudantis das três universidades estaduais paulistas e do Centro Paula Souza. “O Fórum das Seis, como de costume, atuará junto aos mandatos na Alesp nesse sentido”, afirma o texto.

“Ainda teremos disputa na LDO. Eles omitiram a expressão 'no mínimo', que historicamente lutamos para incluir”, ressaltou Michele Schultz, 1ª vice-presidenta da Regional São Paulo e coordenadora do Fórum das Seis.

Famema, Famerp e Univesp
No início dos anos 2000, o governo do estado iniciou um movimento para que Famema, Famerp e Faenquil (Faculdade de Engenharia Química de Lorena) fossem encampadas pelas estaduais paulistas. No entanto, o fato de a proposta não vir acompanhada de garantias de aumento de recursos emperrou as tratativas e somente a Faenquil foi encampada pela USP.

Famema e Famerp têm seus orçamentos vinculados à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI), que tem à frente o ex-reitor da USP, Vahan Agopyan. Como não contam com dotação orçamentária fixa, cabe ao governo definir anualmente os valores que lhes caberão no ano seguinte. O mesmo acontece com a Univesp, criada em 2012. 

O Fórum das Seis defende que Famema e Famerp tenham a garantia dos recursos necessários para o seu adequado funcionamento, tarefa essencial da Secretaria de CTI, sem que isso implique em confisco de verbas de outras instituições públicas. Em relação à Univesp, o Fórum das Seis reafirma sua oposição à oferta de graduações (formação inicial) à distância e entende ser necessária uma discussão mais aprofundada sobre o papel da instituição. 

De acordo com dados extraídos do site da Univesp, em 2023, suas 13 graduações à distância contavam com 68.147 estudantes matriculados. Quantidade tão expressiva de estudantes, no entanto, contrasta muito com seu quadro fixo de pessoal, composto de 141 pessoas; destas, somente quatro são docentes contratados. O site ainda informa a existência de “70 conteudistas para 121 disciplinas”. Trata-se de uma evidente precarização e exploração do trabalho docente.

Paralisação
O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) agendou para a próxima quinta-feira (16), às 16h, a primeira reunião de negociação da data-base de 2024. As entidades que compõem o Fórum das Seis aprovaram o indicativo de realização de ato público com paralisação no mesmo dia.

“É importante que todas e todos estejam mobilizados e acompanhem as nossas atividades para que a gente pressione o Cruesp a de fato nos valorizar e reconhecer o trabalho que fazemos na universidade”, convocou Michele Schultz, em vídeo do Fórum das Seis. 

Ataque à Fapesp
A proposta do governo paulista para a LDO 2025 também embute um ataque à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O orçamento da instituição está previsto na Constituição do Estado de São Paulo, de 1989, e prevê o aporte de 1% da Receita Líquida estadual.  A proposta encaminhada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Alesp inclui artigo que permite reduzir para 0,7%, corte estimado de R$ 600 milhões.

Para o desenvolvimento de ciência e tecnologia de qualidade, é necessário adequado financiamento público, luta histórica do ANDES-SN. As universidades públicas paulistas (as estaduais, USP, Unicamp e Unesp, e as federais, Unifesp, UFABC, UFSCar) dependem do orçamento da Fapesp para o financiamento de projetos de pesquisa em todas as áreas de conhecimento, além de garantir bolsas de iniciação científica e pós graduação a milhares de estudantes.  

“Vários setores da sociedade, mais uma vez, reagem à essa tentativa de ataque às universidades e ao conhecimento por elas produzido, tática típica da extrema direita bolsonarista. Não permitiremos que tal estratégia avance! “, declara Michele. 

 *Com informações do Fórum das Seis

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