Crianças de 4 e 7 anos são assassinadas no portão de casa em Duque de Caxias (RJ)

Atualizado em 10 de Dezembro de 2020 às 10h05

As primas Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7 anos, foram assassinadas quando brincavam em frente ao portão de casa, perto das mães, na última sexta-feira (4), em Duque de Caxias, região Metropolitana do Rio de Janeiro. Na mesma hora, acontecia uma operação policial no local. Um único tiro atingiu as duas crianças. Elas foram enterradas no sábado (5), sob forte comoção.

No domingo (6), moradores de Duque de Caxias protestaram contra a morte das meninas na Praça Raul Cortez, no centro de Caxias, juntamente com parentes, amigos das meninas e movimentos sociais.  Foram levados cartazes com dizeres como "Parem de nos matar", "Justiça por Emily e Rebeca" e "Vidas negras importam", bordão que também foi entoado pelos participantes.

Segundo informações da Polícia Militar (PM), uma equipe policial do 15º Batalhão da Polícia Militar, de Duque de Caxias, realizava um patrulhamento na rua Lauro Sodré, quando disparos de arma de fogo foram ouvidos. A PM afirma que os policiais militares não dispararam. Entretanto, familiares de Emily afirmam que não havia confronto entre policiais e bandidos no momento e, conforme a vizinhança, os policiais saíram do local sem prestar socorro às crianças. Parentes e vizinhos levaram as crianças para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas elas não resistiram aos ferimentos e vieram a óbito. Emily faria aniversário no dia 23 de dezembro.

De acordo com a plataforma digital Fogo Cruzado, que reúne dados de violência armada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e do Recife, 2020 já somam 22 as crianças baleadas. Destas, 8 morreram.

Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, provisoriamente, as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19, nos últimos meses a Iniciativa Direito À Memória e Justiça Racial (IDMJR) identificou um total de 105 operações policiais ocorridas apenas na Baixada Fluminense, resultando em 35 pessoas mortas e 42 pessoas baleadas e/ou feridas. O 15º BPM foi o batalhão que mais realizou operações policiais, um total de 12 apenas no mês de outubro. 

Duque de Caxias e Belford Roxo foram os municípios que mais registraram operações policiais, mais de 20 no total. As áreas são de interesse de milícias que têm disputado com o tráfico para obter o domínio e a lucratividade do território.

Casos: João Pedro e Ágatha
Em maio deste ano, o estudante João Pedro Pinto, de 14 anos, morreu durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ). A família e testemunhas afirmam que policiais invadiram a casa onde os garotos brincavam e jogaram granadas. Mais de 70 tiros foram efetivados pelas polícias. O menino foi atingido na barriga e levado para um helicóptero. Não resistiu e morreu.

Em setembro do ano passado, Ágatha Vitória Félix, oito anos, voltava para casa com a mãe no banco de trás de uma kombi, no Complexo do Alemão, quando foi atingida por um tiro de fuzil. Foi levada ao hospital, mas não sobreviveu. O assassinato da criança pelas forças do Estado gerou dor e revolta e ecoou por todo o país.

O policial militar Rodrigo José de Matos Soares é acusado de efetuar o disparo que entrou pelas costas da menina. A primeira audiência do caso de Ágatha foi marcada inicialmente para julho deste ano, mas sofreu um primeiro adiamento por causa da pandemia de Covid-19, sendo remarcada para 26 de novembro, data em que o réu alegou que estava infectado pelo coronavírus. A audiência foi remarcada novamente, agora para 8 de abril do ano que vem.

Rosineide de Freitas, 1ª vice-presidenta da Regional do Rio de Janeiro do ANDES-SN e do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do Sindicato Nacional, afirma que a notícia se insere em um contexto de racismo estrutural.

"A notícia é recebida com perplexidade pela violência, prematuridade em que o crime ocorreu, e revolta por entender que não se trata de acidente ou um caso isolado. Numa sociedade de raiz escravocrata e colonial, numa conjuntura ultraconservadora torna-se flagrante a forma como as vidas pretas são violentadas e descartadas como acidentes de percurso. Então, para um sindicato tal com o ANDES-SN, que esteve combativo desde a ditadura empresarial-militar, não só pelos direitos da sua base, mas na construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária, envolver-se nas muitas vozes que denunciam estas mortes, que exigem justiça e se engajam na luta antirracista é fundamental", ressaltou.

A docente relembrou também do caso bárbaro do menino Miguel, morto após cair do 9º andar de um prédio em Recife (PE) e os 1000 dias dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. "Enquanto houver racismo, não há democracia, liberdade e vida plena", conclui. 

Com informações de Ponte Jornalismo e Foto da Mídia Ninja

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