Crise sanitária por Covid-19 se soma ao conjunto de desafios que a África enfrenta

Atualizado em 14 de Abril de 2020 às 11h47


A recém-chegada pandemia causada pelo novo coronavírus trouxe à tona as desigualdades que ocorrem dentro dos países, entre os diversos países e nos continentes. A doença, como desafio que provoca dificuldades nos sistemas de saúde ao redor do mundo, impacta de forma ainda mas aguda as comunidades mais fragilizadas. O continente africano já apresenta mais de 7.700 casos confirmados de Covid-19, atingindo 50 dos 55 países do continente e território africano e mais de 300 mortos, segundo o boletim divulgado no sábado (4 de abril) pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC). As pessoas que já se recuperaram da doença somam 560.

A região mais afetada é a do norte do continente, com 3.030 casos, 200 mortes e 314 doentes recuperados. A África Austral registrou 1.558 casos e dez mortes; a parte Ocidental, há registo de 1.303 infeções, 37 mortes e 164 doentes recuperados.

Sudão do Sul, Comores, República Sarauí e Lesoto não apresentaram casos confirmados; só há até o momento um país lusófono sem qualquer confirmação de Covid-19, São Tomé e Príncipe. A Guiné Equatorial, que também integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, foram confirmados 15 casos. Angola tem oito casos de infecção e duas mortes; Moçambique conta com dez casos e Guiné-Bissau, com nove. Cabo Verde registrou até o momento seis casos de infecção, sendo uma morte. 

Erlando Rêses, 3º tesoureiro do ANDES-SN, destaca que a África possui uma cultura fortemente interativa, habituada a construir laços culturais pelas vias da socialização. "Este momento de 
isolamento social e confinamento é uma situação nova, inesperada e impactante para a vida de todos nós. No continente africano, que tem no cerne de sua tradição a alegria, as danças, os vínculos pessoais, a dificuldade de confinamento é ainda mais complicada".

Para além da questão cultural, o fato de se tratar de populações com a situação econômica bastante fragilizada torna o isolamento absoluto impraticável. "Por ser um continente formado por países historicamente explorados ao longo de séculos, temos uma realidade em que parte das pessoas têm que sair de casa para buscar comida", destaca Erlando.

Terceira onda 

Ressaltando o caráter global desta pandemia, o continente africano e especialmente sua porção subsaariana podem ser o epicentro de uma terceira onda de disseminação da doença, após o pico de disseminação ter ocorrido na Europa, Ásia e Américas, trazendo riscos renovados ao mundo todo. 

Condições sanitárias precárias, superpolução, falta de testes e subnotificação preocupam autoridades sobre os riscos da pandemia no continente. Se a doença já é devastadora em países ricos, é ainda mais em comunidades já normalmente fragilizadas. Na África Subsaariana, onde as condições econômicas e sanitárias são extremamente precárias, 258 milhões de pessoas não podem sequer lavar as mãos porque não têm acesso à agua e sabão. O continente africano é habitado por 1,2 bilhão de pessoas e tem registrado mais de 300 novos casos por dia, mesmo admitindo uma imensa subnotificação. Alguns governos já têm alguma experiência acumulada em lidar com epidemias, como Uganda, que montou infraestrutura para combater o Ebola e formou estoque de tendas, equipamentos de proteção, remédios e tecnologia de enfrentamento à doenças infectocontagiosas. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que envie aos países lusófonos da África uma equipe de profissionais em apoio à organização da resposta à pandemia. É um reconhecimento à importância do conhecimento produzido pelas instituições públicas brasileiras de ensino e pesquisa.

Atualização:

Em 11 de abril, a África tinha 693 mortes registradas por Covid-19 e 12.973 casos em 52 países, segundo o boletim do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC África), que também contabilizou 2.064 doentes recuperados após a infeção. A pandemia se disseminou por quase todo o continente africano, atingindo 52 dos 55 países e territórios da África, com quatro países – África do Sul, Argélia, Egito e Marrocos - concentrando mais da metade dos casos. Apenas Lesoto, ilhas Comores e o Saara Ocidental não apresentaram nenhum diagnóstico da doença.


 

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