Docentes têm até o dia 22 de junho para participar da enquete do ANDES-SN; confira entrevista 

Atualizado em 23 de Junho de 2023 às 14h28

Docentes de 11 universidades têm até o dia 22 de junho para participar da enquete do ANDES-SN sobre condições de trabalho e saúde docente. Podem responder ao questionário professoras e professores, sindicalizados ou não, efetivos ou temporários, ativos ou aposentados das universidades federais de Mato Grosso (UFMT), do Tocantins (UFT), do Norte do Tocantins (UFNT), Fluminense (UFF); e da Universidade de Brasília (UNB). Além das universidades estaduais do Ceará (Uece) e Oeste do Paraná (Unioeste); e do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). E, ainda, das universidades de São Paulo (USP), de Gurupi (Unirg) e o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Docentes de outras instituições de ensino poderão participar da próxima etapa da enquete, prevista para ser aplicada no segundo semestre de 2023.

Os resultados desta primeira fase serão apresentados no 66º Conad, que ocorrerá de 14 a 16 de julho de 2023 em Campina Grande (PB), por meio de uma publicação do ANDES-SN.

Amanda Moreira da Silva coordena tecnicamente a enquete e fala, em entrevista concedida ao ANDES-SN, um pouco mais sobre o método escolhido para o questionário. Ela é docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pós-doutoranda em Sociologia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadora do Coletivo de Estudos em Marxismo e Educação (Colemarx-UFRJ) e do Grupo Mundo do Trabalho e suas metamorfoses (GPMT- Unicamp).

ANDES-SN: Por que utilizar a enquete para analisar as condições de trabalho e saúde docente nas universidades, institutos e cefets?
Amanda Moreira da Silva: O objetivo da enquete é traçar um panorama nacional sobre as condições de trabalho no contexto pós-2020, um período de grandes transformações laborais advindas da plataformização, que implicou numa sobreposição do trabalho presencial com o trabalho remoto no cotidiano dos trabalhadores. Por meio desta pesquisa pretende-se: traçar o perfil das e dos docentes dessas instituições; realizar um levantamento sobre as condições de trabalho, demandas, exigências e cotidiano profissional; verificar como tem se dado o uso do tempo de trabalho; averiguar as condições de saúde docente diante do seu processo de trabalho; assim como observar a utilização de tecnologias digitais e como têm se dado o desenvolvimento de atividades remotas, as relações de trabalho e a organização sindical dos e das docentes da base do ANDES-SN.

Deste modo, além de proporcionar aos professores e às professoras a oportunidade de uma autorreflexão sistematizada acerca do seu cotidiano de trabalho, o ANDES-SN terá informações muito relevantes que poderão contribuir para promover ações no sentido de efetivar melhorias das condições de trabalho docente.

ANDES-SN: Por que aplicar o questionário com base na enquete Operária de Karl Marx?
AMS: Em 1880, Marx redigiu e publicou a enquete operária para investigar as condições de vida e saúde da classe trabalhadora francesa. Além da investigação em si, o objetivo central era politizar e fortalecer as organizações de luta dos trabalhadores. O questionário incluiu uma lista de exatamente 101 questões detalhadas perguntando sobre diversas questões, desde o horário das refeições até salários e hospedagens, e o objetivo com esse instrumento era de acumular o máximo possível de material factual sobre os trabalhadores.

Com fins de entendermos a realidade que se apresenta para os docentes, a enquete do ANDES-SN tem como norte teórico-metodológico a força e a atualidade da enquete operária e, fundamentalmente, propõe o retorno a Marx e ao desenvolvimento de ferramentas e métodos capazes de responder aos desafios apresentados à classe trabalhadora no tempo presente, buscando uma combinação entre as exigências científicas e as exigências político-sindicais.

Embora o universo da nossa aplicação seja muito diferente daquele realizado no século XIX, assim como o grupo pesquisado, o fundamental consiste em delinear uma concepção de investigação que seja relevante tanto para análise científica da situação da classe trabalhadora quanto para uma prática orientada no campo sindical e/ou político.

ANDES-SN: Nesta primeira etapa, docentes de apenas 11 instituições farão parte do estudo. Qual será o próximo passo?
AMS: Neste primeiro momento, como um projeto-piloto, o questionário tem sido aplicado nos estados onde estão presentes as e os docentes que fazem parte da equipe da pesquisa, sendo eles: Rio de Janeiro, Tocantins, Mato Grosso, Brasília, Ceará, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A coleta de dados acontecerá até o dia 22 de junho e os resultados desta primeira fase serão apresentados, por meio de relatório descritivo, no 66º Conad, que ocorrerá de 14 a 16 de julho de 2023 em Campina Grande (PB), por meio de uma publicação do ANDES-SN.

Após isso, iniciaremos o segundo momento da pesquisa que consistirá na realização do estudo com docentes da totalidade das universidades federais, estaduais e municipais, institutos federais e cefets (os dois últimos apenas os que compõem a base do ANDES-SN). Nesta segunda fase, serão realizadas análises sobre as condições de trabalho e saúde dos docentes, com o objetivo de traçar um panorama geral, bem como nortear as pautas e ações do ANDES-SN e das suas seções sindicais. Esse momento exigirá um período maior para a execução, mas trabalharemos para que os dados sejam apresentados até o 42º Congresso do ANDES-SN, que ocorrerá em fevereiro de 2024, no Ceará.

ANDES-SN: Como garantir que as e os docentes respondam ao questionário?
AMS: Muitos professores têm respondido as perguntas em menos de 15 minutos. É ágil para responder porque o questionário é composto quase que totalmente por questões fechadas. Mas, ainda assim, devido à vida corrida e ao acúmulo de tarefas laborais, muitos docentes têm respondido ao questionário sem integralizá-lo, o que é um dado interessante também. Não conseguir dedicar 15 minutos do seu dia para refletir sobre as próprias condições de trabalho, respondendo a uma pesquisa, é mais um sinal de que estamos sobrecarregados, com muitas atividades que nos demandam tempo e energia vital. Ainda assim, considerando todas as dificuldades intrínsecas à categoria docente, a nossa intenção é ter o maior número possível de respondentes. Para isso, faremos uma força-tarefa no segundo semestre, com o auxílio de bolsistas que possam estar presencialmente nos campi solicitando que os professores possam responder ao questionário. Assim esperamos conseguir levar a pesquisa ao maior número de docentes que for possível.

ANDES-SN: Quantos docentes já responderam a enquete?
AMS: Cerca de 20 dias após o início da coleta dos dados [em 22 de maio] mais de 1300 professores haviam respondido ao questionário. É um bom número, mas esperamos que nestes últimos dias da fase inicial da pesquisa tenhamos mais respondentes. A divulgação da enquete tem sido muito boa, a pesquisa tem sido bem divulgada nas redes sociais do ANDES-SN, aplicativos de mensagem, além de panfletos, cartazes e banners nas 11 instituições abarcadas. O nosso objetivo é que todos os docentes que atuam nas instituições respondam ao questionário, sendo sindicalizados ou não sindicalizados, efetivos ou temporários, ativos ou aposentados. A ideia é realmente obter um retrato da nossa categoria.

ANDES-SN: Quais as ações que o Sindicato Nacional pode propor para melhorar a qualidade de vida e as condições de trabalho para a categoria?
AMS: O sindicato tem um papel fundamental no desenvolvimento de ferramentas e métodos capazes de responder aos desafios apresentados à classe trabalhadora no tempo presente. Por meio da enquete do ANDES-SN pretendemos desenvolver uma investigação que não se proponha apenas a observar o fenômeno externamente, mas sim que seja diretamente comprometida com a defesa da classe trabalhadora.

Tomamos essa concepção como uma forma de possibilitar a articulação das exigências metodológicas e políticas com fins de buscar dados empíricos que possam auxiliar as lutas e ao mesmo tempo contribuir para a autoavaliação dos trabalhadores em relação às mudanças abruptas no seu cotidiano de trabalho, podendo favorecer a mobilização política.

Não é possível afirmar que a pesquisa desenvolvida irá traçar uma relação imediata entre diagnóstico e ação, mas o que se espera é a construção de uma representação e mobilização dos trabalhadores visando a transformação da situação vivida. Pretendemos, portanto, construir um conhecimento relevante, tanto no plano científico como no plano sindical e político, e que apresente a possibilidade de propor ações imediatas e futuras.

Saiba mais
ANDES-SN publica enquete sobre condições de trabalho e saúde docente

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