Indígenas ocupam prédio por melhorias no atendimento na saúde em MS

Publicado em 04 de Fevereiro de 2021 às 13h12. Atualizado em 04 de Fevereiro de 2021 às 13h14

Secretário se reuniu com indígenas e prometeu afastar coordenador por 20 dias enquanto apura denúncias feitas

Cerca de 50 indígenas ocuparam o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) em Campo Grande (MS) no dia 28 de janeiro contra o descaso com a saúde nas comunidades do estado em plena pandemia da Covid-19 e a favor da exoneração do atual coordenador do distrito, Joe Saccenti Júnior. Joe foi nomeado pelo general ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em setembro de 2020.

As lideranças também protestaram contra a atuação de dirigentes nomeados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para o estado, desde o início da pandemia, e o afastamento de diversos profissionais de saúde de etnia indígena, num processo de desmonte do Dsei. Em dezembro, o coordenador Joe Saccenti Júnior demitiu arbitrariamente uma enfermeira indígena Indianara Machado da Coordenadoria Técnica do Polo Base de Dourados. Além dela, que esteve na linha de frente do atendimento a indígenas infectados pelo novo coronavírus, mais 17 profissionais foram demitidos no Mato Grosso do Sul e outros três aguardam a finalização de processos internos.

O secretário da Sesai, Robson Santos, foi até a ocupação na noite de sexta (29) e escutou as reivindicações do grupo. Os indígenas contaram as dificuldades em dialogar com o coordenador, que sustenta uma postura autoritária e tem desrespeitado a autonomia das comunidades e os caciques ao não recebê-los do Distrito. As e os indignas afirmam que, até hoje, ele não conhece as comunidades.

Além da exoneração do coordenador que é coronel de reserva, Joe Saccenti Júnior, os indígenas exigiram a exoneração de Clenivaldo Pires Xavier e Silvano de Morais de Souza, respectivamente presidente e vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi-MS). E, ainda, ações mais efetivas no combate à Covid-19. Dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, registrados até 3 de fevereiro, apontam que 104 indígenas morreram, no Mato Grosso do Sul, em decorrência de Covid-19. É o terceiro estado brasileiro com o maior número de óbitos da população indígena.

Segundo relatos das lideranças locais, o cenário é grave, além das demissões das e dos profissionais de saúde, nenhum investimento nas condições de trabalho dos profissionais de saúde tem sido efetivo para dar conta da demanda de atendimento. A compra de materiais médicos hospitalares e equipamentos de proteção individual (EPI), muitas vezes, depende do financiamento colaborativo feito pelas organizações indígenas e sociedade civil e, ainda, há a preocupação com a segunda onda de contaminação de Covid-19 no país.

Outra situação denunciada é a falta de transporte para equipes de saúde, o que resulta em falta de atendimento para a comunidade e aqueles e aquelas que necessitam do transporte para fazer hemodiálise.

O secretário Robson Santos respondeu aos presentes que afastaria coordenador da Dsei por um período de 20 dias, a contar a partir do dia 1º de fevereiro, enquanto apurasse as denúncias contra ele. Entretanto, no site do Ministério da Saúde, naa quarta-feira (3), o nome de Joe Saccenti Júnior ainda constava como coordenador do Distrito Sanitário.

Para Silvio Ortiz, liderança Kaiowá do município de Dourados, se não houver o cumprimento da promessa, os indígenas retomarão a ocupação por tempo indeterminado.

“Nós entendemos que o mandato deste governo federal e do coordenador é passageiro, com duração de 4 ou 8 anos de gestão. Porém é preciso entender que a saúde indígena precisa ser permanente e a Sesai não é um presente do governo. Ela é fruto da conquista dos nossos antepassados, anciões, que desapareceram e foram mortos para garantir essa assistência médica”, disse. “Precisamos ter um sistema de saúde na altura que a nossa comunidade merece, específica e diferenciada. Somos mais de 80 mi indígenas no estado e não vamos desistir enquanto Joe não for exonerado”, completa.

Silvio Kaiowá agradeceu o apoio das entidades, movimentos sociais e do Comitê de Defesa Popular de Dourados (MS), no qual o ANDES-SN faz parte, que têm divulgado o caso e auxiliado financeiramente a estrutura do movimento, com o pagamento de gasolina para deslocamento e alimentação, entre outros. “Os direitos constitucionais dos povos indígenas não se negociam, direito é direito”, ressalta.

Foto: Henrique Arakaki/Midiamax

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