Luta conjunta e relatos de experiências marcam primeiro dia do IV Encontro sobre Carreira EBTT e Ensino Básico das Iees/Imes

Atualizado em 29 de Setembro de 2023 às 21h04

O debate sobre a luta conjunta da Educação Básica, Técnica e Tecnológica e do Magistério Superior deu início aos trabalhos, nesta sexta-feira (29) do IV Encontro Nacional do ANDES-SN sobre Carreira Docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) e Ensino Básico das Instituições Estaduais e Municipais de Ensino Superior (Iees/Imes).

Carreira única, experiências de luta e organização nos locais de trabalho e a Reforma do Ensino Médio são alguns dos outros temas que serão abordados durante o encontro. “Tentamos contemplar algumas questões mais urgentes, que já estamos debatendo em nossos espaços deliberativos, com a certeza que algumas temáticas farão falta, e que poderemos pautar em próximos encontros”, pontuou Clarissa Rodrigues, 2ª vice-presidenta da Regional Leste do ANDES-SN e das coordenações dos grupos de trabalho de Políticas Educacionais e de Carreira do Sindicato Nacional.

Carreira única e luta conjunta
A primeira mesa do encontro “Luta conjunta da Educação Básica, Técnica e Tecnológica e do Magistério Superior” contou com as explanações de Claudio Mendonça, docente EBTT da Universidade Federal do Maranhão, e David Lobão, docente do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e diretor do Sinasefe.

Claudio Mendonça abordou a conjuntura, com a ascensão da extrema direita e o processo de retirada de direitos enfrentado pela classe trabalhadora em todo o mundo. No Brasil, o período mais recente ainda foi marcado pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Além disso, a classe trabalhadora, incluindo a categoria docente, passou nas últimas décadas por um violento processo de reestruturação do trabalho, impactando na saúde física e mental e na condição de ser social das trabalhadoras e dos trabalhadores.

Mendonça lembrou das lutas recentes capitaneadas pelo setor da Educação, como as ocupações estudantis e as marchas contra a reforma do ensino médio em 2016, a luta contra o Escola sem Partido em 2018 e o Tsunami da Educação em 2019, foram alguns exemplos citados pelo docente da UFMA.

Referindo-se à pandemia e ao fim do Ensino Remoto Emergencial, Mendonça ressaltou que apesar do medo, em um dado momento, após muito debate a categoria decidiu retomar as atividades presenciais. “Enfrentamos ainda a política do medo e dialogamos que era importante retornar às nossas salas de aula [na pandemia de Covid-19]. Aquele espaço é nosso e não poderíamos permitir que os tubarões do mercado aproveitassem daquele momento de dor para avançar na mercantilização da educação”, acrescentou.

Claudio ressaltou que é fundamental reafirmar a luta em defesa do projeto de Carreira Única, historicamente defendido pelo ANDES-SN, como aponta o Caderno 02 do Sindicato Nacional. “Temos que ter uma disposição militante muito grande, para convencer a base que a luta é de todas e todos”, afirmou.

David Lobão, da coordenação-geral do Sinasefe, trouxe um histórico de como surgiu o EBTT no país, com o propósito de formar mão de obra qualificada para atender os novos os novos processos de reestruturação do trabalho impostos pelo Capital. Lobão reforçou a importância do tripé ensino, pesquisa e extensão no EBTT e a importância da luta por uma carreira única. “Nós temos uma tarefa muito grande Nós construímos um projeto de carreira única, documentamos isso com o governo, e agora temos que fazer vale de fato”, afirmou. “Precisamos dar uma resposta. Tomara que dia 03 seja o início de uma resposta que precisamos dar com muita força e muita determinação”, disse, conclamando à mobilização também pela Campanha Salarial 2024.

Relatos e denúncias
A segunda mesa “Relatos de experiências: enfrentamentos e possibilidade de organização e luta” contou com as apresentações das docentes Andrea Matos, 1ª vice-presidenta da Regional Norte II do ANDES-SN e docente da Escola de Aplicação da UFPA, Luciana Soares, docente da Criarte/Ufes Educação Infantil, Ione Mendes, da UFG, e Rosineide Freitas, do Colégio de Aplicação da Uerj.

As quatro professoras contaram sobre suas vivências em seus locais de trabalho. Andrea Matos trouxe sua pesquisa sobre o perfil docente da educação infantil durante a pandemia na UFPA. A diretora do ANDES-SN ressaltou a necessidade de estudos específicos sobre o trabalho docente na pandemia, de acordo com área de atuação docente.

“Esse [o ANDES-SN] é nosso espaço de organização para a luta. É aqui que nós precisamos ocupar e nos fortalecer para a luta, socializar e conhecer a realidade. Essa é uma mostra muito pequena da realidade dos nossos colégios de aplicação e nossas escolas”, afirmou Andrea.

“São muitos desafios e temos que pensar, a partir desse encontro, elaborações para resoluções nesse sindicato para apresentar como propostas nos eventos deliberativos, como por exemplo da defesa da Educação Infantil nas Escolas e Colégios de Aplicação”, concluiu a diretora do ANDES-SN.

Luciana Soares reforçou também que o debate sobre carreira é menor na educação infantil. “A compreensão política da carreira na educação infantil tem limite até por conta da proposta pedagógica hegemônica na educação infantil”, afirmou. “Administrar a educação infantil em precarização e ainda atender o fluxo de estudantes estagiários de graduação intensificou sobremaneira o nosso trabalho”, acrescentou a docente da Ufes.

Ione Mendes afirmou que é importante fazer o enfrentamento também nos espaços de trabalho e no diálogo com demais colegas docentes. “Temos que pensar bastante nas condições de trabalho, sobretudo dos professores da educação infantil. E pensar com melhor qualidade”, disse a professora da UFG.

Rosineide Freitas partilhou seu processo de descolonizar a prática político-pedagógica como estratégia de luta. “Pensando no espaço que desenvolvemos educação básica nesse nível, se a luta antirracista não estiver na nossa prática, algo está muito errado”, afirmou. A professora da Uerj reforçou a responsabilidade conjunta, mas principalmente das pessoas brancas, no enfrentamento ao racismo e na luta antirracista.

“Vivemos em uma sociedade racializada, supremacista branca cishéteronormativa, punitivista, eurocentrada. Desta forma, a função social do trabalho realizado no âmbito da Educação forma deve ser desvelar os sistemas opressores desta sociedade para contribuir com o processo que promoverá a sua superação”, acrescentou.

“O que nós estamos fazendo hoje com os estudantes pretos que estão sob nossa responsabilidade? Como estamos reproduzindo isso nos nossos projetos pedagógicos?”, questionou. “O mundo que está por vir não pode ter a cor da pele como sinônimo de vida ou morte! Com racismo não há educação efetivamente popular”, concluiu, reforçando a necessidade de intensificar a luta pela efetivação de lei 12.990/2014 e suas correlatas nos estados, que garante cota para pessoas negras nos concursos públicos.

Diversas professoras e professores se inscreveram para contar sobre a realidade em seus locais de trabalho e os desafios impostos, desde a precarização nas condições e locais de trabalho, a falta de docentes, o preconceito por parte de pessoas da própria categoria com docentes do EBTT e o enfrentamento ao racismo nos espaços escolares.

Cerca de 60 docentes participam da atividade acontece na sede do Sindicato Nacional em Brasília (DF), nos dias 29 e 30 de setembro.
 

 

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