Precarização: Estudantes de odontologia da Uern decidem não se matricular para segundo semestre de 2020

Publicado em 13 de Novembro de 2020 às 14h39

 

Estudantes do curso de odontologia na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Campus de Caicó, decidiram que não se matricularão no para o segundo semestre de 2020, que terá início em fevereiro de 2021, a menos que sejam oferecidas condições dignas para o aprendizado e atendimento na clínica odontológica do curso.

O estudante Matheus Regis, do 10º período do curso, destaca que a mobilização partiu de uma iniciativa do Centro Acadêmico, que recolheu assinaturas de estudantes de diversos períodos comprometidos em não realizar a matrícula, caso a clínica odontológica permaneça com condições precárias de atendimento.

“Nós entendemos que sem os alunos é impossível que o curso continue. Já temos 66 assinaturas de alunos de diversos períodos e continuamos dialogando e recebendo apoios. Nossa mobilização tem como objetivo garantir que não iremos nos estudar sem o básico para nossa formação”, comenta.

Regis destaca que, dentre os principais problemas apontados, o mais grave é a estrutura da clínica: falta de manutenção predial - inclusive com número considerável de focos de cupim -, iluminação inapropriada, precarização dos equipamentos e o déficit na reposição de insumos para atendimento.

“Quando faltam insumos os estudantes que têm mais condição acabam comprando para garantir os atendimentos, em outros casos recebemos doações. Isso é inaceitável e demonstra o quão grave é a situação vivida por estudantes e docentes da UERN”, avalia o estudante.

Formação prejudicada
Matheus Regis enfatiza que a situação compromete as condições de aprendizado. Ele destaca que a nota positiva de avaliação do curso no Enade é fruto do esforço de professores e estudantes, apesar defasagem estrutural e falta de apoio.

“O curso de odontologia de Caicó recebeu nota 4 no Enade, uma das melhores notas em todo o Brasil, isso se dá pelo esforço dos estudantes e professores, que muitas vezes precisam reforçar o conhecimento teórico pela falta de condições de aplicação na prática. Estou no décimo período, portanto concluindo o curso, mas posso dizer que minha formação foi prejudicada pela falta de condições estruturais. Alguns equipamentos quebram e não são mais consertados, nossa condição de aprendizado estanca. Não dá nem para quantificar o tamanho do prejuízo com isso”, explica.

Em nota pública, o Centro Acadêmico de Odontologia da Uern afirma que “tendo em vista a situação de incerteza no que se diz respeito ao conserto das Clínicas Odontológicas de Odontologia da UERN e a consequente oferta de disciplinas que não permitem o andamento do fluxo dos alunos e de todo o caminhar do curso, os alunos de Odontologia da UERN do Campus Caicó optaram pela realização de uma paralisação autônoma estudantil, por meio da não matrícula de nenhuma disciplina ofertada no Semestre letivo 2020.2”. 

Os estudantes apontam, ainda, que “o Curso de Odontologia da UERN precisa de atenção das instâncias superiores, para que possa se reestruturar e assim, continuar contribuindo com a formação de profissionais de saúde e com os serviços prestados à população de Caicó e cidades circunvizinhas de maneira digna”.

Aduern SSind. denuncia precariedades desde 2015


À revelia de represálias ou conveniências, a Associação de Docentes da Uern (Aduern Seção Sindical do ANDES-SN) sempre reportou a situação vivida no Campus de Caicó, em especial na clínica odontológica. Em 2015, a diretoria da entidade visitou o Campus e, naquela época, a situação da clínica já causava grande preocupação.

“Outro problema apresentado por docentes e estudantes do CAC se dá em relação às clínicas de odontologias, espaço onde os discentes do curso têm em média 38% de suas aulas durante a graduação. De acordo com o professor Eduardo Seabra, apesar de haver uma estrutura de trabalho razoável, o aporte de insumos e a manutenção dos equipamentos é insuficiente”, reportou a 
Aduern SSind, em 2015.

Já naquele ano, funcionários e estudantes denunciavam que a falta de manutenção no prédio que abriga as clínicas prejudicava o trabalho realizado. Segundo relatos dos técnicos que atuavam no local, não era incomum ver centrais de ar quebradas e focos de cupins se alastrando dentro de salas, que deveriam ser totalmente esterilizadas.

Em 2019, a seção sindical também denunciou a situação vivida pelos docentes do curso, que paralisaram as aulas por falta de condições de trabalho. Na oportunidade, os profissionais afirmaram que o estoque de material de consumo para atendimentos a pacientes chegou a zero e que 85% das cadeiras de atendimento estavam quebradas, impedindo a plena realização das consultas.

*Fonte: Aduern SSind. com edição do ANDES-SN

 

 

 

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