68% das pessoas que moram em favelas não têm dinheiro para comprar comida

Publicado em 17 de Março de 2021 às 13h29. Atualizado em 17 de Março de 2021 às 13h31
Nove em cada dez pessoas receberam alguma doação durante a pandemia. Foto: Paulo de Almeida Filho/ANF

Uma pesquisa divulgada no sábado (13) mostra que 68% das moradoras e dos moradores das favelas no Brasil não têm recursos para conseguir comprar comida. Os dados são de um levantamento sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na vida dessa parcela da população.

Além da falta de recursos para alimentar a família, os dados mostram também que o número de refeições diárias dos moradores das comunidades vem diminuindo: de uma média de 2,4, em agosto de 2020, para 1,9, em fevereiro deste ano.

A pesquisa aponta ainda que 71% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade da renda que obtinham antes da pandemia. E que 93% dos moradores não têm nenhum dinheiro guardado.

“Os dados são hoje os mais preocupantes desde o início da pandemia. Nós monitoramos, durante o último ano, praticamente todos os meses a situação das favelas e, em nenhuma das pesquisas, o dado foi tão preocupante como esse, seja no número de pessoas sem poupança, seja no número de pessoas com falta de dinheiro para comprar comida, seja na redução do número de refeições”, destacou o presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela, Renato Meirelles.

Segundo a pesquisa, além da fome e da queda na renda, as pessoas das comunidades têm enfrentado também um risco sanitário maior por ter que se expor ao vírus para conseguir sustento: 32% estão procurando seguir as medidas de prevenção contra a covid-19; 33% estão procurando seguir, mas nem sempre conseguem; 30% não conseguem seguir; 5% não estão tentando seguir.

“Com o agravamento da crise sanitária e com os recordes de contaminação, nunca foi tão importante o reestabelecimento imediato do auxílio emergencial. São brasileiros que foram obrigados, desde o início da pandemia, a ter que escolher entre o prato de comida ou a proteção da saúde da sua família”, disse. “Não é à toa que a maior parte das pesquisas sobre a infecção mostra que o número de contágio na favela é, em geral, o dobro quando comparada às regiões mais nobres”, acrescentou.

Doações
O levantamento mostra ainda a importância das doações na vida dos moradores das favelas: nove em cada dez pessoas receberam alguma doação durante a pandemia. E oito em cada dez famílias não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar as contas básicas caso não tivessem recebido doações.

“É muito comum nas pesquisas ouvir a frase: na favela se o seu vizinho tem comida, ninguém passa fome. No sentido de que eles dividem o pouco que têm, mostrando uma solidariedade impressionante nesse cenário”, afirmou Meirelles.

O levantamento é do Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa). A pesquisa entrevistou 2.087 pessoas maiores de 16 anos, em 76 favelas do Brasil, no período de 9 a 11 de fevereiro de 2021. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.

* Com informações da Agência Nacional de Favelas (ANF) e Agência Brasil

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