Cotas nas universidades brasileiras são eficientes, conclui estudo estadunidense

Publicado em 24 de Janeiro de 2020 às 10h43. Atualizado em 24 de Janeiro de 2020 às 11h12

Políticas de ações afirmativas aumentaram a inscrição de estudantes negros e pobres em universidades brasileiras. Lei Nacional de Cotas existe desde 2012, mas muitas universidades implementam desde os anos 2000.

Foto: UNB Agência​

Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos (EUA), analisaram dados das instituições de ensino superior (IES) brasileiras para entender o efeito das políticas de ações afirmativas, como o sistema de cotas, nas matrículas de grupos ditos minoritários. Nos EUA, as universidades não são obrigadas a divulgar seus critérios, o que dificulta a avaliação da eficácia dessas políticas. Já no Brasil, esses dados estão disponíveis ao público.

O resultado final, publicado na revista Economics of Education (Economia da Educação em tradução livre), é a de que essas políticas funcionam. Houve um aumento de 9,8% no número de estudantes negros e pardos, de 10,7% de estudantes de escolas públicas e 14,9% de estudantes de nível socioeconômico mais baixo em universidades. A pesquisa estadunidense analisou informações de matrículas em universidades brasileiras no período de 2004 a 2012. Os especialistas usaram como base dados fornecidos por 163.889 estudantes inscritos no vestibular de 48 universidades federais.

"Mostramos que as cotas atingem seus objetivos. Elas aumentaram a matrícula de alunos dos grupos que deveriam. Havia mais estudantes de origens pobres e de escolas públicas, negros e estudantes sub-representados", afirmaram os pesquisadores Arends-Kuenning e Renato Schwambach Vieira, em entrevista ao site da Universidade de Illinois.

O artigo “Ação afirmativa nas universidades brasileiras: efeitos na inscrição de grupos-alvo” apontou que universidades que adotaram políticas de ações afirmativas com critérios raciais explícitos experimentaram um aumento na matrícula de estudantes negros, enquanto as universidades que adotaram apenas critérios socioeconômicos não tiveram mudanças significativas no perfil racial de seus alunos. "Se você deseja alcançar a igualdade racial, não pode ter cotas baseadas em antecedentes socioeconômicos, isso não funcionou para aumentar o número de estudantes negros ou pardos no Brasil".

Arends-Kuenning sinalizou interesse em aprofundar o estudo para além dos efeitos das matrículas dos estudantes. “Isso poderia incluir a observação cuidadosa de questões de desempenho e taxas de abandono e como eles se saem depois de se formarem. As cotas já existem tempo suficiente para fazer isso”, disse.

Cotas
Demanda antiga do movimento negro, a Leis de Cotas nas instituições federais de ensino (12.711/2012) faz parte de uma série de políticas afirmativas implementada na última década. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo marcado por grandes desigualdades socioeconômicas e raciais, o que se deve, em partes, à falta de acesso à educação e, consequentemente, à inserção no mercado do trabalho. O ANDES-SN, nas últimas décadas, vem construindo políticas de combate ao racismo e, principalmente, de reconhecimento à necessidade de políticas de reparação à população negra.

Com informações da Universidade de Illinois

 

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