Execução de Marielle Franco e Anderson completa mil dias sem respostas

Atualizado em 10 de Dezembro de 2020 às 10h23

Hoje, 8 de dezembro, o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa mil dias. Até hoje, o caso segue sem respostas sobre o mandante do crime que repercutiu na imprensa nacional e internacional. Mulher, negra, mãe, vereadora, nascida e criada na favela da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle tinha atuação pautada na defesa de negros e pobres e denunciava a violência contra essa população. Socióloga e mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Marielle foi a 5º vereadora mais votada do Rio de Janeiro, com 46,5 mil votos, e a mulher mais votada na última eleição municipal.

No Rio de Janeiro e em outras cidades do país serão realizados atos e twitaços (#MilDiasSemMarielle) para dar visibilidade ao caso e exigir justiça para Marielle e Anderson. Quem mandou matar Marielle Franco e por quê? São perguntas que ainda seguem sem respostas. Veja aqui como participar das mobilizações.

O Crime
Na noite do dia 14 de março de 2018, Marielle Franco, 38 anos, vereadora do Psol no Rio de Janeiro, foi brutalmente assassinada, a tiros, na região central do Rio. O motorista que conduzia o carro em que estava, Anderson Pedro Gomes, também foi alvejado e morto. Uma terceira pessoa, assessora da vereadora, que estava no veículo, sobreviveu ao atentando. Os criminosos estavam em um carro que emparelhou com o da vereadora e efetuaram 13 disparos. Segundo imagens obtidas pela polícia, um veículo Cobalt estava parado próximo ao local.

O crime foi cometido quatro dias após a vereadora e moradores da favela de Acari denunciarem a morte de dois jovens e os abusos cometidos por policias do 41º Batalhão da Polícia Militar (BPM) na favela, localizada na Zona Norte do Rio, a cerca de 25km do centro da cidade. Segundo a vereadora postou em rede social, o batalhão estaria "aterrorizando e violentando moradores de Acari". Foi em Acari, também, que ocorreu a morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, em março de 2017, enquanto tomava água no bebedouro do pátio da escola. 

Novas pistas
Nesta segunda (7), novas pistas sobre o atentado foram divulgadas pelos meios de comunicação. Os investigadores descobriram que Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, morador da Muzema, Zona Oeste do Rio, favela dominada pela milícia, clonou, entre janeiro e fevereiro de 2018, um veículo Cobalt como o que foi utilizado na emboscada às vítimas, em março do mesmo ano. Coincidência ou não, o advogado Bruno Castro, que defende Siqueira, é o mesmo que atua para o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle e Anderson.

Segundo o jornal Extra, Siqueira admitiu, em depoimento prestado à Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, em 3 de julho de 2018, já ter clonado vários veículos, inclusive um Cobalt, prata, ano 2014, semelhante ao carro usado pelos assassinos. Entretanto, o assunto ficou esquecido nas milhares de páginas do processo. Ao revisitar as folhas iniciais do caso, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio teve sua atenção voltada para as informações prestadas pelo acusado e o fato de ele e Lessa terem o mesmo defensor.

Além da nova pista, a polícia segue outras linhas de investigação. Uma delas é que a ordem para matar Marielle partiu do ex-bombeiro, ex-vereador e miliciano Cristiano Girão. O objetivo seria se vingar do deputado federal Marcelo Freixo (Psol). Girão era um dos nomes da lista da CPI das Milícias, aberta em 2008 e presidida pelo parlamentar na Assembleia Legislativa. Marielle trabalhou com Freixo durante vários anos. O ex-vereador ficou preso até 2017, um ano antes do crime. Ele nega participação e, como álibi, disse à polícia que, no dia do assassinato, foi a uma churrascaria onde ficou até meia-noite.

Violência política
Marielle se tornou um símbolo da violência política que acontece no Brasil. Um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, fundado pela Universidade Cândido Mendes, revelou que 85 candidatos nas eleições municipais de 2020 foram assassinados no Brasil até o último dia 20 de novembro e houve 119 registros de agressões contra políticos que registraram candidaturas aos cargos de vereador, prefeito e vice-prefeito.

Parlamentares têm relato sofrer ameaças, como é o caso de Carol Dartora (PT-PR), ativista e primeira mulher negra a se eleger vereadora em Curitiba. Ela é alvo de diversos ataques racistas e, ainda mais grave, recentemente recebeu ameaças de morte em suas redes sociais e por e-mail. Duda Salabert (PDT), eleita a primeira vereadora trans em Belo Horizonte (MG), também recebeu ameaças de morte nas últimas semanas.

 o caso da deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) ganhou repercussão internacional por receber seguidas ameaças de morte. A deputada está impedida de retornar ao estado do Rio de Janeiro com sua filha. Em setembro, Talíria acionou a Organização das Nações Unidas (ONU) para pedir proteção após não receber ajuda por parte dos governos federal e estadual.

Com informações de agências de notícias

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