Presidente da Fundação Palmares demite negras e negros funcionários da instituição

Publicado em 28 de Fevereiro de 2020 às 14h30

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio de Camargo, demitiu na manhã dessa quarta-feira (26) vários diretores negros e negras da instituição. Segundo informações repassadas à imprensa por funcionários, a demissão se deu por telefonema do próprio Camargo. 
Ele teria argumentado, por telefone, que pretende “montar uma nova equipe de extrema direita”. Todos os demitidos haviam sido empossados durante o governo Bolsonaro. As demissões se deram antes da atriz Regina Duarte assumir a secretaria especial da Cultura.
Entre os exonerados, profissionais técnicos de reconhecida trajetória em políticas públicas em prol da cultura afro-brasileira, estão os responsáveis pela Diretoria de proteção Afro-brasileira (DPA), Sionei Leão, Diretoria de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira (DEP), Clóvis André da Silva, e Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (Cenirp), Kátia Martins.
Em nota à imprensa, a Fundação Palmares alegou que as demissões tem como objetivo trazer servidores públicos federais ‘com as expertises técnicas necessárias aos cargos”.


Avaliação
Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN e da coordenação do GT de Políticas, repudia mais esse ataque, que, segundo ela reflete a linha política adotada pelo governo de desmonte de quaisquer medidas de reparação e ação afirmativa voltada à população negra.
“A direção do ANDES-SN entende como mais um retrocesso. As políticas de reparação no Brasil são recentes e o impacto na fundação Palmares, desse desmonte e desse alinhamento à políticas de extrema-direita, pensando por exemplo na Educação e todo o material já produzido sobre a Lei 10139, só significa a institucionalização do racismo e de ataques à todas as políticas relacionadas à ações de reparação e afirmativa”, avalia. A Lei 10.139/2003 tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas.
Caroline lembrou ainda que a medida se soma a uma série de outras atitudes e declarações racistas, machistas, lgbtfóbicas que caracterizam esse governo de extrema-direita.


Vale resgatar que apenas em fevereiro desse ano, o presidente disse, em entrevista, que “pessoa com HIV é despesa para todo o Brasil”. Declarou ainda que "cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós". E, na última quinta-feira, 20, em transmissão ao vivo em sua rede social, Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) deu uma “queimadinha” porque “demorou para nascer”.


Histórico na Palmares
O jornalista Sérgio Camargo foi nomeado presidente da Fundação Palmares em 27 de novembro de 2019. Após manifestações racistas, a indicação ao cargo foi suspensa pela justiça. 

O juiz da 18ª Vara Federal do Ceará, Emanuel Matias Guerra, proferiu decisão em 4 de dezembro, apontando “excessos” do jornalista contra pautas antirracistas. Para o magistrado, Camargo tem potencial para ofender exatamente o público que deve ser protegido Fundação Palmares.


A instituição foi criada para defender e fomentar a cultura e manifestações afro-brasileiras. No dia 12 de fevereiro, após recurso da Advocacia Geral da União (AGU), o Superior Tribunal de Justiça revogou a suspensão e Camargo foi empossado.


*Com informações do Correio Braziliense e Estado de Minas

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