Docentes são barrados ao chegar no México para participar da Clacso

Publicado em 09 de Junho de 2022 às 17h15. Atualizado em 09 de Junho de 2022 às 17h16

Em nota, o ANDES-SN repudiou política migratória excludente e imperialista

Ao menos seis pessoas, entre docentes e pesquisadoras, foram barradas pela Imigração do México, ao chegarem ao país para participar da 9ª Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais (Clacso), na Universidade Autônoma do México (Unam). Em nota, o ANDES-SN repudiou firmemente o que caracterizou de essa política discriminatória e obscurantista. A entidade prestou, ainda, solidariedade “às e aos docentes e estudantes que foram impedidas e impedidos de participar da 9ª Clacso, pelo consórcio entre imperialismo, neoliberalismo e fascismo”.

O Sindicato Nacional teve conhecimento de que ao menos três docentes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um da Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), um da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) e duas estudantes de pós-graduação da Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) tiveram a entrara no país negada. Em alguns casos, foram detidos pelo departamento de Imigração, passando por situação constrangedora e intimidatória.

Foi o caso do docente da UFRRJ, Dan Gabril D’Onofre, que chegou ao país no dia 02 de junho e teve a entrada negada, pois estava com o visto por vencer. D’Onofre informou que o sistema de emissão digital de vistos da Embaixada mexicana estava com problemas e não conseguiu renovar a autorização e havia sido informado que poderia fazê-lo no aeroporto, na Cidade do México, capital do país.

No entanto, ao desembarcar no país, foi levado barrado no controle de imigração e detido. O docente contou que foi colocado em uma cela, junto com outros homens, todos sem máscaras. Disse ainda que o local não tinha iluminação natural e nem relógio, o que impossibilitava ter noção de quanto tempo que estava ali. Dan relatou também que pode testemunhar a homofobia, por parte da polícia mexicana, em relação aos detentos.

Segundo ele, foi concedido o direito a uma ligação de dois minutos, mas ele não conseguiu contato com as pessoas que iriam recepciona-lo. Também não conseguiu falar com a Embaixada Brasileira, embora tivesse solicitado diversas vezes e explicado que era um servidor público federal, em viagem de trabalho.

O docente reconhece que toda nação é soberana para permitir a entrada de estrangeiros em seu território, porém criticou o tratamento que lhe foi dispensado, assim como às outras pessoas. Ressaltou também o fato de, com essa política migratória agressiva, impedirem a livre circulação e intercâmbio de saberes, ao barrarem quem estava no país para participação de um evento acadêmico. 

“Foi um misto de elementos. O local onde fui colocado, a negativa de acesso à embaixada, a morosidade por parte do serviço consular, a descrença dos oficiais mexicanos de que eu era um servidor público em viagem a trabalho, além do fato de impedirem a livre circulação de ideias e produção científica”, comentou.

O docente destacou ainda a contradição entre a postura do governo mexicano frente ao tratamento dispensado pelos Estados Unidos em episódio recente da Cúpula das Américas e a política adotada no tratamento a estrangeiros. 

“O Lopes Obrador [presidente do México] se posicionou contrário à Cúpula das Américas pelo fato de não convidarem Venezuela, Cuba e Nicarágua. Mas terceiriza a política de repressão a imigrantes dos Estados Unidos. Logo, é anti-imperialista pero no mucho”, disse.

Em nota, o ANDES-SN também condenou o tratamento dispensado e as medidas adotadas pelo México, que considerou “nefastas e incompatíveis com a produção e circulação de conhecimento não são episódios isolados, mas se inserem num processo amplo de recrudescimento da influência imperialista norte-americana no continente”. 

“Como efeito do endurecimento da política anti-imigrantes dos EUA ao longo dos governos Trump e Biden, o governo do México reproduz um tratamento desumanizador que trata cidadãs brasileiras e cidadãos brasileiros, neste caso trabalhadoras e trabalhadores de nossas IES, como “invasore(a)s” em potencial”, acrescentou a diretoria do Sindicato Nacional. Leia aqui a íntegra da nota.

Visto para o México
Desde 11 de dezembro de 2021, brasileiros e brasileiras que queiram visitar o México necessitam de visto, que pode ser emitido através de uma Autorização Eletrônica. O formulário deve ser preenchido online e feito a partir 30 dias de antecedência da data da viagem. No entanto, no último mês o sistema tem apresentado falhas de funcionamento.

Antes, a autorização para entrada no país era concedida no momento de chegada, pelos oficiais de imigração do aeroporto.

 

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