Garimpeiros atiram e jogam bombas contra indígenas na Terra Yanomami (RR)

Publicado em 20 de Maio de 2021 às 08h49
Foto: Reprodução vídeo

Desde o dia 10 de maio, os indígenas da aldeia Palimiu, na região do Uraricoera, no interior da Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, estão sendo alvos de uma sequência de ataques feitos por garimpeiros que, em barcos, efetuam disparos e intimidam a comunidade.

A Hutukara Associação Yanomami (HAY) informou no sábado (15) que duas crianças morreram afogadas, depois de se perderem durante uma fuga do primeiro ataque. As crianças, de um e cinco anos de idade, foram encontradas dois dias depois (12), já sem vida.

Após a denúncia da associação, relatando a investida de grupos de garimpeiros armados contra a aldeia, outro ataque aconteceu no mesmo local na noite de domingo (16), dessa vez com mais ostensividade. Os invasores atiraram e jogaram bombas de gás contra os indígenas.

Conforme relatado pelas lideranças Yanomami, 15 barcos de garimpeiros se aproximaram da comunidade e “que, além de tiros, havia muita fumaça e que seus olhos estavam ardendo, indicando o disparo de bombas de gás lacrimogêneo contra os indígenas”.

A situação foi relatada em ofício destinado à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami da Fundação Nacional do Índio (Funai), à superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR), à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª BIS) e ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR). A HAY novamente cobrou dos órgãos públicos a instalação de um posto emergencial na comunidade de Pailimiu para a manutenção da segurança na região.

“Estamos muito preocupados com nossos parentes do Palimiu, que estão sofrendo ameaças contra suas vidas”, denuncia a associação. “A comunidade de Palimiu está sem nenhuma assistência de saúde: os profissionais de saúde foram removidos por conta dos tiroteios. Também não tem nenhuma força pública de segurança permanente do local, e os garimpeiros continuam diariamente amedrontando a comunidade”, completa a nota.

A Justiça Federal de Roraima, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), determinou que a União enviasse tropas de segurança até o dia 13 de maio, o que não ocorreu, relataram os indígenas. Outras decisões da Justiça Federal, em ações do MPF, e do próprio Supremo Tribunal Federal (STF), na ADPF 709, determinaram a retirada dos invasores e a proteção do território e do povo Yanomami. Porém, nenhuma das decisões judiciais foi cumprida pela União.

De acordo com o Cimi, cerca de 20 mil garimpeiros vivem e atuam ilegalmente, hoje, dentro da Terra Indígena Yanomami. Os ataques são recorrentes e, apenas neste ano, a HAY denunciou outros dois conflitos envolvendo garimpeiros. Um na aldeia Helepi, em fevereiro, e outro na mesma comunidade Palimiu, em abril.

Em julho do ano passado, a Hutukara Associação Yanomami se reuniu com o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, para denunciar a situação das terras indígenas. Dois indígenas Yanomami foram assassinados por garimpeiros em meio à pandemia de Covid-19, que atinge duramente os povos indígenas, e a um aumento nos índices de malária. Na época, Mourão se comprometeu a reabrir as quatro Bases de Proteção Etonoambiental (Bapes), que funcionam como postos de fiscalização e controle dentro das TIs. O que não ocorreu.

Rota do Ouro
Palimiu fica às margens do rio Uraricoera, onde garimpeiros exploram o ouro ilegalmente desde a década de 80. A comunidade fica na rota usada por garimpeiros para chegar aos acampamentos ilegais no meio da floresta. O garimpo em terra indígena é considerado crime pela lei brasileira, mas tem crescido atualmente devido à alta do preço do ouro no mercado internacional e pela pouca fiscalização do governo atual.

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